O direito à moradia é assegurado pela Constituição Federal de 1988, devendo ser garantido tanto pelo governo federal, quanto por estados e municípios. Segundo dados oficiais da prefeitura, o Recife tem um déficit de 71.160 moradias. Se vendo sem alternativa, pessoas ocupam prédios vazios ou moram em casas improvisadas enquanto conjuntos habitacionais prometidos não são entregues.
Os dados da falta de moradia constam no Plano Local de Habitação de Interesse Social (PHLIS) de 2018, o levantamento mais recente do município. Diante da inflação, aumento de aluguel e desemprego, o número pode ser maior. Enquanto isso, conjuntos habitacionais ainda não foram entregues.
Coordenador estadual do Movimento de Luta e Resistência por Terra (MLRT), Jean Carlos Costa dos Lírios afirmou que há, ao menos, 44 imóveis abandonados que não têm nenhuma função social no bairro de Santo Antônio, na região central, que poderiam ajudar a diminuir o déficit.
“O déficit habitacional hoje, no Recife, segundo um levantamento feito por várias ONGs e movimentos sociais, é de 75 mil moradias. A gente lamenta muito e a gente está precisando de políticas públicas de habitação, que possam alavancar uma moradia popular digna”, disse o coordenador.
Além das palafitas, que se multiplicam nas margens dos rios, a ocupação de prédios públicos vazios há anos tem sido o caminho para ter um teto sobre a cabeça para alguns.
No antigo edifício do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), no bairro de Santo Antônio, surgiu a ocupação Leonardo Cisneiros. O edifício, que estava vazio há 20 anos, é o local em que a dona de casa Rafaela Mathias mora com o marido e os dois filhos.
“Eu digo que melhorou mais, porque a gente já não paga mais aluguel e o dinheiro dá para comprar outras coisas: um alimento, um gás, que está muito caro. Dá para comprar uma fralda e ainda dá para se virar, mas ainda falta alguma coisinha antes de terminar o mês. Fralda, leite, isso tudo é gasto”, disse Rafaela.
Além dela, outras 120 famílias encontraram no prédio abrigo, como a da dona de casa Anielly Karolaine da Silva. O filho dela, Caleb, de 9 meses, nasceu na ocupação. O marido, Fabiano da Silva, está desempregado e vive de bicos, como lavador de carro. Pagar aluguel é impossível para eles, relatou.
A aposentada Josefa Alves da Silva, de 82 anos, é a mais velha da ocupação do antigo prédio do INSS. Mora em um barraco com os filhos e netos, sendo que a aposentadoria dela é a única renda fixa da família.
Todos os filhos maiores de idade ficaram desempregados e um salário mínimo passou a ser pouco para pagar o aluguel de R$ 500 e viver. “Um salário mínimo não dava para comprar medicamentos e alimentação. Aqui é bem mais em conta, a gente troca um gás, a gente compra alguma coisa”, afirmou a aposentada.
Na Rua do Hospício, no bairro de Santo Amaro, 250 famílias ocupam o antigo prédio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A ocupação Maria Firmina dos Reis acontece há dois meses.
A dona de casa Cilene Maria dos Santos foi morar no local com a irmã, Graziele, e a sobrinha, Ágata, de 6 meses, depois depois de passar por problemas familiares na casa onde moravam.
As famílias de ambas as ocupações dependem de doações para sobreviver. Muitos coletam material reciclável para vender e tirar algum dinheiro. Apesar das dificuldades, Graziele afirmou que se sente acolhida.
Fonte: g1