Um projeto que prevê a instalação telas de proteção contra tubarões na Região Metropolitana do Recife enfrenta dificuldades para virar realidade. Segundo a organização não-governamental (ONG) Instituto Praia Segura, essa ideia é discutida desde 2005 pelas autoridades que integram o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit).
Nos últimos 15 dias, Pernambuco registrou três incidentes: o surfista André Luiz, de 32 anos, foi atacado em Olinda, um adolescente de 14 anos teve a perna direita amputada e Kaylane Timóteo Freitas, de 15 anos, perdeu parte do braço esquerdo. Os dois últimos casos foram em Piedade, em Jaboatão.
De acordo com o Instituto Praia Segura, as telas passaram por análise da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e foram aprovadas. O projeto, no entanto, foi suspenso em 2013, quando faltava a realização do último teste.
“As telas de exclusão não são para aprisionar tubarões e sim para criar uma área onde possa realizar campeonatos esportivos ou até mesmo um banho de mar com segurança”, afirmou Sérgio Murilo, presidente do Instituto Praia Segura, em entrevista ao g1.
As telas são utilizadas em Hong Kong. Em mais de 25 anos, de acordo com a ONG, não houve registro de ataques de tubarão nas áreas de proteção.
Em Pernambuco, foram 77 incidentes com esses animais, desde 1992, quando os casos começaram a ser registrados.
“Diferentemente de outras telas utilizadas, por exemplo, na África do Sul ou na Austrália, que servem para aprisionar e matar os tubarões, essas telas são flutuantes e cumprem esse papel de marcação. Não é isso [matar tubarões] que a gente deseja para Pernambuco, principalmente por questões ambientais”, disse Sérgio.
De acordo com Sérgio, a sugestão é que a tela proteja uma área reduzida, de 100 a 200 metros. Isso reduziria o impacto ambiental e facilitaria a manutenção por parte das instituições envolvidas.
“Fazer as telas para cercar por quilómetros é totalmente inviável. Nossa sugestão é a de ilhas de segurança. Elas poderiam, por exemplo, cercar uma área na frente da Igrejinha de Piedade. São áreas pequenas, de fácil manutenção, com custo reduzido e altamente viáveis em termos de segurança” afirmou.
Alternativas ambientais
De acordo com o Instituto Praia Segura, apesar de eficientes, só as telas não resolveriam o problema dos tubarões. A entidade sugere outras medidas:
Recuperação ambiental;
Educação ambiental e campanhas educativas;
Aumento do efetivo do GB-Mar, dando poder de polícia para retirada de banhistas da água;
Presença de médico ou enfermeiro nas ambulâncias do SAMU e dos bombeiros;
Ampliação e realocação das placas de sinalização;
Pesca seletiva;
Retomada das pesquisas.
Para o instituto, também é preciso discutir a implantação de uma nova área de proteção ambiental no litoral do Grande Recife, que iria do Porto do Recife ao Porto de Suape.
Com isso, pescadores ficariam impossibilidades de atuar nessas áreas. Segundo o Praia Segura, seria necessária a criação de um auxílio mensal, chamado de ‘bolsa-tubarão’.
O instituto também afirmou que é preciso estudar a relação entre os ataques mais recentes e a dragagem do Porto do Recife, no ano passado.
“A gente acredita que essa dragagem pode ter mexido um pouco com o ecossistema marinho da região.”
O Instituto Praia Segura afirma que não chegou a enviar novamente o projeto ao governo, mas que poderá apresentar os modelos das telas de exclusão, assim como todos os estudos realizados.
O g1 entrou em contato com o governo de Pernambuco para falar sobre a proposta das telas e aguardava retorno até a última atualização desta reportagem.
Na segunda-feira (6), a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), afirmou que vai investir em mais pesquisas para aprimorar o monitoramento das praias pernambucanas e evitar novos ataques.