Durante os três primeiros meses do ano, o preço de aluguel de imóveis registrou altas superiores a 4,7%. Segundo um levantamento da plataforma QuintoAndar, em São Paulo, o aumento médio nos valores foi de 5,9%, quase o dobro do trimestre anterior, quando foi registrado avanço de 2,9%. Já no Rio de Janeiro, a alta foi de 4,7%. Considerando a diferença entre bairros nas capitais carioca e paulista, algumas regiões viram o preço crescer 22,5%. O preço médio para apartamentos de 60 metros quadrados foi de R$ 2.620 por mês, em São Paulo, e R$ 2.200, no Rio de Janeiro. O valor não considera gastos com condomínio, IPTU e outras taxas. Apesar das altas, os números representam uma desaceleração em relação a 2022. De acordo com o Quinto Andar, a alta é menor do que a registrada no ano passado, de 6,7%, indicando uma ligeira redução no ritmo de crescimento do mercado. Especialistas no mercado imobiliário consultados pela Jovem Pan avaliam que o preço do aluguel deve continuar subindo nos próximos meses, mas não de forma tão expressiva quanto observado em 2022. Mesmo uma eventual redução da taxa de juros do Banco Central, não deve impactar os valores praticados no setor este ano, apenas no próximo.
Para Vinicius Oike, economista do QuintoAndar, o mercado de aluguel deve continuar a apresentar aumentos de preços consistentes, mas com taxas mais moderadas. Ele esclarece que o primeiro trimestre do ano normalmente é marcado por elevações de preços maiores, por conta da renovação dos contratos. “A desaceleração da economia global, somada a um cenário doméstico de juros elevados, pinta um cenário desafiador para 2023. Mesmo durante a pandemia observamos um movimento expressivo de aumento no preço dos imóveis em São Paulo. Isto somado ao aumento do custo de crédito, com juros mais altos, deve incentivar as pessoas a optar mais pelo aluguel. Todos os sinais apontam que a economia brasileira (e mundial) deve crescer menos em 2023. Assim, esperamos que o preço do aluguel deve crescer menos em 2023. No Rio, o cenário de aumento de preços também deverá se repetir este ano, mas com taxas mais modestas na comparação com 2022. Para níveis históricos, o crescimento do aluguel deve se manter num patamar elevado”, avalia.
Especialista em direito imobiliário do escritório Ale Advogados, Gabriela Castro complementa que o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) é um indicador mensal da atividade econômica do país, comumente utilizado para reajustes de aluguéis. Ele teve um aumento considerável por conta da acumulação dos últimos 12 meses, o que consequentemente afetou os preços dos aluguéis. “Após os três primeiros meses do ano, foi possível perceber uma estabilização do crescimento dos valores da locação, o que significa que este aumento tem desacelerado. A expectativa atual é a menor progressão dos preços. O alto preço do aluguel e a possível variação da Selic podem influenciar o mercado. Se houver a baixa da taxa básica de juros, ficará mais interessante para o inquilino financiar o seu próprio imóvel, o que em um longo prazo tende a aumentar a oferta de imóveis para locação, pressionando assim, a redução dos valores dos aluguéis”, complementa.
Presidente da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (AABIC), José Roberto Graiche Junior pondera que é difícil prever com certeza o que acontecerá com o preço dos aluguéis até o final do ano com base apenas nos primeiros três meses do ano. “No entanto, é possível acompanhar as tendências do mercado imobiliário e prever tendências futuras com base em informações históricas e tendências recentes. Acreditamos que se continuar neste ritmo, com uma retração na oferta dos imóveis residenciais, o preço tende a aumentar, chegando à recuperação dos valores perdidos durante a pandemia. Tudo indica que o mercado está em franca recuperação. Temos a reforma tributária que pode contribuir para uma movimentação no mercado. Para 2024, a expectativa está toda concentrada na reforma tributária”, indica. O corretor de imóveis João Moreira avalia que os preços dos aluguéis devem seguir em alta até que a taxa Selic comece a cair. “Isso trará mais poder de compra para a população, além de gerar uma rentabilidade menor em aplicações financeiras, o que influencia o investimento em aluguéis. Acredito que sempre teremos altas relevantes nos aluguéis a longo prazo, até mesmo pela valorização dos imóveis. Abaixar a taxa de juros poderia ser a solução, mas enquanto o Brasil não controlar a inflação, poderia aumentar mais ainda o valor dos imóveis e bens em geral“, ressalva.
Sobre uma possível redução da taxa de juros por parte do Banco Central, Vinicius Oike afirma que a medida não deve ter um impacto imediato no preço dos aluguéis. “Existe uma defasagem grande entre a queda da Selic e o impacto econômico no mercado imobiliário. Uma eventual queda entre maio e junho pode gerar um efeito bom sobre as expectativas de mercado, pois será uma sinalização de que o Banco Central está entrando em um ciclo de queda da Selic. Apesar disso, os efeitos só deverão começar a ser sentidos no mercado imobiliário em 2024. José Roberto Graiche Junior acrescenta que, se o Banco Central decidir baixar a Selic, é possível que isso tenha um impacto positivo no mercado imobiliário e nos preços dos aluguéis. “Mas é importante lembrar que as mudanças podem não ser imediatas ou uniformes em todas as regiões do País. Reduzindo juros, há um aumento no estímulo para investimento em imóveis para renda, aumentando a oferta e diminuindo os preços”, esclarece.
Para aqueles que estão à procura de um imóvel para locação, os especialistas recomendam realizar uma pesquisa de mercado com intuito comparativo para constatar se o preço anunciado está acima dos demais. Também é importante se atentar a estipulações contratuais e a possibilidade de negociação dos valores. Eles também sugerem que os inquilinos não percam tempo em fechar contrato de um imóvel que gostaram pois a oferta de imóveis em melhores condições e com boa localização está baixa. De acordo com os especialistas, a reposição do estoque ou ampliação obedece ao fluxo de construção de novos empreendimentos que podem girar em torno de três a cinco anos, o que pode tornar mais difícil encontrar um imóvel em bom estado.
Fonte: JP