O incêndio nas palafitas no Pina, na Zona Sul do Recife, revelou o drama de famílias que perderam o pouco que tinham. Homens, mulheres e crianças que vivem em situação degradante. “Tem que conviver com a maré alta e os ratos subindo”, declarou a ambulante Juanita Costa, de 58 anos, uma das prejudicadas pelo fogo.
O incêndio ocorreu na tarde de sexta-feira (6), entre as pontes Agamenon Magalhães e Paulo Guerra, principais ligações entre a Zona Sul e o Centro do Recife. Ao menos 40 palafitas foram destruídas. As causas do fogo são investigadas pela Polícia Civil.
Nesta segunda (9), vizinhos de Juanita, também prejudicados pelo incêndio, protestaram na frente da prefeitura do Recife. Eles querem indenização maior do que a oferecida pelo poder público, que é de R$ 1.500 para cada família.
Para quem ficou sem casa, é necessário obter um valor maior, que garanta condições para a mudança de área. Na hora do incêndio, Juanita estava resolvendo um problema com a documentação do banco. Viu a fumaça e saiu correndo. “Não salvei nada”, disse.
“É terrível viver em uma palafita. A Constituição diz que moradia é para todos, mas cadê?”, declarou Juanita.
Sobre a perspectiva de conseguir um auxílio definitivo, ela afirmou que sonha com o dia de receber uma casa. “Acho que agora sai. Está tudo pronto”, afirmou, fazendo referência ao conjunto habitacional que está sendo construído também no Pina e foi prometido para os moradores das palafitas.
O pescador Misael Fernandes também perdeu o pouco que tinha no incêndio de sexta-feira. Ele foi morar com o filho perto da comunidade que foi destruída pelo fogo, passando a dormir em um colchão que foi doado por entidades assistenciais.
Também pescadora, Janicleide Fernandes, filha de Misael, está com o pai na casa do irmão. A filha dele perdeu os livros e não pode ir para a escola. “Só salvei o botijão de gás. A roupa é de doação”, disse a pescadora.
Drama parecido vive o comerciante e pescador José Gilson Cordeiro, que vive há 20 anos na área e contou que, durante todo esse tempo, nunca teve a oportunidade de viver em uma casa com melhores condições. Ele reclama das promessas: “É só conversa, política”, declarou.
José Gilson salvou a geladeira, que está vazia. “Queria mesmo era ir morar no interior. Onde pudesse plantar e criar bichos”, disse.
Uma comissão de moradores da área foi recebida pela prefeitura do Recife. O resultado da reunião não havia sido divulgado até a última atualização desta reportagem.
O incêndio destruiu quase a metade das palafitas existentes na bacia do Pina, segundo os moradores. Foram atingidas ao menos 40 moradias, segundo levantamento feito por líderes de movimentos que trabalham na área (veja vídeo acima).
Nesta segunda-feira (9), peritos do Instituto de Criminalística (IC) estiveram na área. Eles fizeram fotos e coletaram material para tentar descobrir o que provocou o fogo. O g1 questionou à Polícia Civil o motivo de a perícia não ter sido feita antes da prefeitura iniciar a limpeza do local, mas não recebeu resposta.
Por meio de nota, a Polícia Civil informou, nesta segunda, que as investigações do incêndio estão sob a responsabilidade da Delegacia de Boa Viagem. “Todas as providências necessárias para o esclarecimento do fato serão tomadas”, afirmou o comunicado.
Ainda segundo a polícia, “no conjunto dos trabalhos, haverá coleta de depoimentos, elementos e perícias técnicas no local”, disse.
Por fim, a corporação afirmou que “mais detalhes sobre as investigações serão repassados à imprensa em momento oportuno”.
Fonte: g1