Moradores de Paulista, no Grande Recife, denunciaram ter sofrido agressões, nesta quarta (22), durante um protesto na sede da prefeitura. Participavam do ato pessoas que perderam o pouco que tinham durante as fortes chuvas.
“Jogaram spray de pimenta no meu rosto. Até criança foi atingida”, disse a dona de casa Maria do Carmo da Silva, de 48 anos.
Mesmo com chuva, por volta das 9h, famílias chegaram à sede da prefeitura para cobrar moradia. Eles não foram recebidos por nenhum representante do Executivo municipal. Por isso, algumas pessoas decidiram entrar no prédio.
Foi nesse momento, segundo os manifestantes, que ocorreram agressões. Uma mulher diz ter sido empurrada por um secretário (leia mais abaixo).
Segundo as famílias, apenas após a confusão na prefeitura, elas foram recebidas pelo secretário de Ações Jurídicas, que marcou uma reunião para a terça (28). Por volta das 14h, as famílias foram embora.
Moradora da Rua Padre Roma, no bairro de Engenho Maranguape, Maria do Carmo afirmou que vive com as duas filhas e as netos de 1 e 5 anos e que a casa foi condenada.
Ela também afirmou que, após ser atingida no rosto por spray de pimenta dentro da prefeitura, precisou ser socorrida. E disse que quem jogou o spray foi um guarda municipal.
“Fiquei com falta de ar, com tosse, meus olhos estão ardendo muito e com a vista embaçada, nem consigo nem falar direito. Tomei um soro e uma injeção. A gente não estava fazendo nada, estava em pé, e ele [guarda municipal] jogou por nada. Na hora, eu não vi direito. A gente está lutando por nossos direitos”, declarou.
Segundo a dona de casa, o imóvel em que ela vive fica cheio de água sempre que chove. “Enche de água, as paredes escorrem, o colchão fica molhado, a cama. Já perdi metade das minhas coisas. Para comer é difícil. O que eu tenho já ganhei dos outros. E não tenho condições de pagar aluguel”, afirmou.
Empurrada por secretário
A dona de casa Emmelayne Cristina da Conceição, 28, diz ter sido empurrada pelo secretário de Segurança e Mobilidade de Paulista, Marcelo Meneses.
“A gente estava em um protesto pacífico. Porém, quando a gente entrou na prefeitura, o secretário e os agentes começaram com agressões, jogaram spray de pimenta. O secretário me empurrou, eu cai em cima do birô”, disse.
A mulher afirmou que o executivo municipal marcou cinco reuniões com os moradores para discutir a questão de moradia, mas cancelou todas.
“Hoje a gente está desabrigado, em uma invasão, na PE-22. A gente está sem alimentação, sem roupa, sem colchões. São 550 famílias ao todo, mas hoje tem 245 famílias. Teve até criança atingida por spray de pimenta. A gente nem teve reação, porque era um protesto pacífico. A gente só pensou nas crianças”, afirmou.
O que diz a prefeitura
Por nota, a Prefeitura de Paulista afirmou que a denúncia de agressão feita contra o secretário não procede e que “não houve qualquer agressão”.
No comunicado, o Executivo municipal confirmou o uso de spray de pimenta e disse que pessoas que se identificaram como representantes do movimento “invadiram a sede da prefeitura e agrediram guardas civis municipais”.
A prefeitura informou que “os agentes de segurança, para conter as agressões, a invasão e possíveis danos ao patrimônio público, fizeram uso desse instrumento”.
A gestão também afirmou que está aberta ao diálogo sobre políticas de habitação para a população do município e disse que em nenhum momento foi procurada pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia Brasil (MNLM) para tratar do assunto.
Fonte: g1