Também nesta segunda, Natasha prestou o primeiro depoimento na Delegacia de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife.
Acompanhada por advogados, ela chegou para à delegacia no início da tarde. Por volta das 17h, todos eles deixaram o local.
Nem ela nem os defensores quiseram falar com a imprensa depois do depoimento e afirmaram que vão se pronunciar em “momento oportuno”.
O caso causou grande repercussão e e reações de instituições. Também levou o Conselho Regional de Biologia a abrir uma investigação sobre a conduta dela. Logo depois de o vídeo viralizar, a polícia anunciou que daria início às investigações.
A LIGATEA, grupo formado por advogados que defendem direitos de pessoas com autismo, publicou uma nota sobre o caso e disse que “repudiava veementemente as postagens de Nathasha Borges”.
Um advogado que integra a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência alertou que ela teria cometido ao menos três crimes.
A proteção, comprovada cientificamente como forma de prevenção à Covid-19, é de uso obrigatório em locais públicos de Pernambuco desde maio de 2020, incluindo em shoppings. Somente nesta segunda-feira (28) o governo decidiu liberar o uso de máscaras em locais abertos.
Durante a pandemia, foram aprovadas leis que isentam pessoas com autismo de usar a máscara. Isso aconteceu porque pessoas com transtorno do espetro autista (TEA) podem ter deficiências sensoriais que impedem o uso adequado da proteção facial.
Segundo médicos, a não obrigatoriedade assegura a inclusão desses indivíduos, já que alguns apresentam baixo limiar aos estímulos sensoriais.
Em live realizada em uma rede social, no domingo (27), Natasha Borges da Silva reconheceu que adotou uma atitude errada. Ela afirmou que errou “miseravelmente”. “Quis me beneficiar de uma lei que não se aplica mim”, disse.
O vídeo de Natasha foi postado, segundo ela, em um novo perfil nas redes sociais. Ela justificou que, por causa da polêmica, teve a outra conta “derrubada” pelo Instagram. Ela disse que fez “uma brincadeira de péssimo gosto”.
“Não há justificativas. Eu quis me beneficiar de uma lei que não se aplica mim para não usar a tal máscara. Naquele dia [23 de março], eu estava com rinite alérgica e seria impossível usar todas as vezes em todos os lugares”, afirmou.
Na postagem, ela afirmou, ainda, que “não é preconceituosa” e disse que “tem deficientes em diversos graus convivendo diretamente comigo”.
Ela contou que, há dez semanas, levou crianças que não conhecia e que são pessoas com transtorno do espectro autista ao Zoológico do Recife, em Dois Irmãos, na Zona Norte.
“Estava com meus filhos e com meu sobrinho e duas mães confiaram seus dois filhos autistas a mim os foram impossibilitados de entrar porque não tinha o passaporte vacinal”, afirmou.
Ainda segundo Natasha, “não problema em pedir desculpas”. “A todos os autistas pais e familiares que se sentiram magoados, agredidos, denegridos, vai o meu sincero pedido de perdão, desculpa, e tenho certeza que eu não me orgulho do ocorrido, pois magoei as pessoas mais especiais que tive a oportunidade de conversar”, declarou.
No dia em que a polêmica teve início, a bióloga rebateu respostas negativas postadas na internet. Natasha Borges gravou outros vídeos.
“Gente do céu, a todos os autistas e suas famílias, eu não sou preconceituosa com nenhum distúrbio, tenho em minha família. Parem de aumentar!!! Quem nunca errou atire a primeira pedra, uma lástima tudo isso. Não dá!!! Todos os stories derrubados. Faltou caridade e interpretação. Não tenho problemas em pedir desculpas, e pediria, se fosse preconceituosa. Não sou!”, disse a bióloga.
Em uma postagem posterior, ao responder um internauta, Nathasha Borges escreveu: “Peço desculpas aos que se sentiram diretamente atingidos, autistas e familiares”.
Fingimento
No vídeo, postado no Instagram, a bióloga disse que foi a uma reunião no Shopping RioMar, no bairro do Pina, na Zona Sul do Recife, e ficou sem máscara “o tempo inteiro”.
Em outro trecho do vídeo, Nathasha Borges relatou como enganou um profissional da equipe de segurança do shopping para não precisar colocar a máscara.
“Teve uma hora em que o homem veio me perguntar, aquele segurancinha do carrinho fez: ‘Moça, dá para botar a máscara?’, aí eu disse: ‘Venha cá, venha cá. Não, porque eu sou autista'”, disse.
O Shopping RioMar se pronunciou sobre o caso em duas notas. Na primeira, disse que recebeu com perplexidade o vídeo e que atua “sempre pautado pelo respeito, com ações voltadas ao debate sobre inclusão”, além de ter considerado as atitudes da bióloga “lamentáveis sob diversos aspectos”.
No segundo comunicado, o Shopping RioMar declarou que “repudia quem usa de uma causa justa e coletiva para obter vantagens individuais”.
Além disso, explicou que o segurança “partiu do pressuposto da boa-fé solicitando a presença de um acompanhante, com uma abordagem educativa, uma vez que não tem poder de polícia”.
Fonte: g1