A máfia das apostas pagou um total de R$ 835 mil a jogadores de futebol num intervalo de apenas seis meses, entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023. O montante foi levantado pelo GLOBO a partir da análise de comprovantes de pagamento e planilhas de contabilidade da quadrilha obtidas pela Operação Penalidade Máxima, além de depoimentos dos próprios atletas ao Ministério Público de Goiás (MP-GO). Os documentos revelam que alguns jogadores usavam intermediários e parentes para receberem as quantias dos apostadores.
Nino Paraíba, por exemplo, recebeu R$ 70 mil da quadrilha através da conta bancária de sua mãe quando ainda jogava pelo Ceará. Quatro comprovantes diferentes em nome de Maria José Sousa Clementino, a genitora do lateral, foram encontrados no celular de Bruno Lopez, o BL, apontado como chefe da quadrilha de apostadores. Os repasses foram feitos das contas de Camila Silva da Motta, mulher de BL, e da empresa BC Sports Management, de propriedade do casal.
Numa mensagem enviada a comparsas antes do jogo entre Ceará e Cuiabá, em outubro de 2022, BL explicou como eram feitos os pagamentos a Nino Paraíba: “Eu deposito direto na conta da mãe dele, os depósitos, pode ver ó, tudo no CPF da mãe dele, entendeu? Tudo quente”, disse BL.
O lateral, atualmente sem clube, admitiu que recebeu pagamentos da quadrilha para ser punido com cartões amarelos em três jogos e fechou um acordo com o MP-GO.
O jogador que mais recebeu dinheiro da quadrilha foi Gabriel Tota, ex-Juventude. Ao todo, R$ 115 mil foram transferidos para sua conta entre setembro e novembro do ano passado. Tota, no entanto, não ficou com todo esse montante: segundo a investigação, além atuava como intermediário da quadrilha dentro do vestiário do Juventude e repassava boa parte para colegas que conseguia trazer para o esquema. Tota é réu na Justiça de Goiás e foi banido do futebol pelo STJD.
A quadrilha também fazia repasses a intermediários dos jogadores, responsáveis por fazerem contato com os apostadores e trazerem os atletas para o esquema. Um deles, segundo mensagens extraídas do celular de BL, é o jogador Antônio Polidoro Jr., destinatário de duas transferências feitas pela quadrilha que somam 65 mil. O montante foi usado no aliciamento de dois atletas: Nathan, ex-Fluminense e hoje no Grêmio, e Sávio, ex-Goiás.
Em 9 de setembro, BL contou aos comparsas que havia conseguido cooptar Nathan e compartilhou um comprovante de R$ 35 mil para Polidoro, que atua nas divisões inferiores da França. “Ele trampa comigo tem uns dias já. Ele que intermedia bastante jogador aí pra mim, ele que tá na bala direto com o Nathan aí, fechou?”, explicou o chefe da quadrilha. Nathan acabou não sendo escalado para aquele jogo do Fluminense e não cumpriu o acordo.
Para chegar ao montante de R$ 835 mil transferidos para os jogadores, foram usadas como base as 35 partidas suspeitas levantadas no mapeamento do escândalo das apostas, feito a partir da análise das 2.686 páginas da investigação do MPGO e disponível no site do GLOBO. Os valores recebidos pelos atletas, no entanto, podem ser ainda maiores, já que não há comprovantes de todas as transferências feitas dentro do inquérito.
Fonte: Folha