Em meio à enxurrada de instalações de CPIs, a abertura da comissão parlamentar para investigar o escândalos das apostas esportivas no futebol na Câmara dos Deputados deve garantir um respiro para o Palácio do Planalto – e até alavancar a imagem de governistas menos conhecidos. Como o site da Jovem Pan mostrou, foram abertos na última quarta-feira, 17, três colegiados temporários na Casa Baixa. São elas: CPI das Americanas, que vai investigar supostas fraudes contábeis cometidas pelo grupo empresarial que comanda a varejista; a CPI do MST, que mira as invasões de terras produtivas e a suposta omissão do governo; e a CPI da Manipulação dos Resultados em Partidas de Futebol, popularmente conhecida como comissão das apostas. Capitaneados pelo relator, o deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE), o grupo quer ouvir jogadores, casas de apostas, árbitros e a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF), excluindo qualquer tentativa, ainda que lateralmente, de responsabilizar ou atacar o governo Lula 3.
Diferente da CPI do MST, que nasce a partir de um tema politizado, que são as invasões de terras, ou da CPMI do 8 de Janeiro, que é certeza de confronto entre governistas e opositores, a investigação parlamentar do esquema de apostas no futebol mira em um ponto de consenso entre os lados opostos do Parlamento: a paixão nacional pelo futebol e a indignação causada pelos escândalos envolvendo atletas, uma quadrilha de apostadores e, sobretudo, o sentimento de milhares de torcedores-eleitores. Dessa forma, o entendimento é que dificilmente o colegiado deve dar preocupações ao Executivo. “É a CPI com menos possibilidade de atingir a imagem do Executivo, já que deverá ter uma frente parlamentar que tende a unificar ações, investigações, em relação ao futebol brasileiro. Quem sairá prejudicado são dirigentes de futebol, clubes e jogadores. A não ser que tenhamos parlamentares ou pessoas ligadas a eles envolvidas na máfia das apostas, o que me parece difícil, já que esse tipo de organização que manipula os resultados estão à margem do sistema político”, explica o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).
Do ponto de vista dos membros titulares e suplentes, o tom do colegiado também deve ser mais ameno, muito longe do espetáculo dantesco protagonizado pelos parlamentares nas audiências com ministros de Estado nas comissões permanentes. Isso porque o colegiado é composto majoritariamente por parlamentares mais discretos e ponderados, políticos de carreira que se mantêm longe dos holofotes das polêmicas nas redes sociais. Ao mesmo tempo, a CPI também terá em seu quadro um grupo de cartolas, que têm ou tiveram relação direta com clubes, o que, em tese, deve evitar brigas, bate-bocas e desgaste para o Planalto. “Enquanto a CPI do 8 de Janeiro pode engajar os partidos de esquerda e manchar a imagem dos bolsonaristas, a CPI do MST foi criada com a intenção de ser um contrapeso contra o governo. Mas o futebol dificilmente vai gerar grandes complicações ideológicas”, pontua o especialista ouvido pelo site da Jovem Pan. Ainda que aos olhos do Executivo o quadro seja mais auspicioso e o tema da CPI das Apostas menos politizado, Paulo Niccoli reforça que o colegiado também terá um papel político. Neste caso, o de promover um maior protagonismo do Congresso Nacional perante a opinião pública e alavancar nomes para as eleições municipais de 2024.
“Como futebol é um tema popular recorrente nas mídias digitais e tradicionais também pode dar uma alavancada para imagem de muitos esses políticos, até figuras mais escondidas, aqueles que não participarem da CPI do MST e do 8 de Janeiro, terão oportunidade de criar alguma popularidade e melhor imagem sobre a sociedade”, afirma o cientista político. Em uma visão final dos quatro colegiados a serem iniciados na próxima semana – com expectativa ainda da instalação da CPMI da invasão de Brasília –, Niccoli Ramirez pontua que a instalação dos colegiados, ainda que com suas singularidades e riscos, acabam agradando a gregos e troianos. Ou seja: a base de Lula e a oposição ao petista. “E os que estão em cima do muro também, principalmente do Centrão, que são ora a favor, ora contra o governo, ora bolsonaristas, ora mais próximos do governo Lula”, conclui.
G1